quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Balanço

Que fica de quem passa? Um eco de mágoa
ao ouvido da tarde? Uma pausa de palavras
na frase do instante? Uma interrupção de passos
a caminho da porta? Um sal de sentimento
no coração da amada? A vida esfarelada
numa dissipação de rumos? Ou um peso
de esquecimento na sombra da memória?
Mas quem passa não pensa no que fica,
se os passos o levam para onde espera
ficar; e se o seu destino é a passagem,
onde ficar é sair de onde não chegou a
habitar, é o tempo que o obriga a não olhar
para onde não há-de voltar, mesmo que aí
tenha deixado o que pensou consigo levar.
Náufrago sem ilha nem barco, ou
marinheiro preso ao porto, é ele o seu próprio
fim, como se a cada momento não soubesse
que não é dele o que leva, e só é dele o
que perde, como se o não quisesse guardar,
para que chegue mais depressa, ao cair da noite,
a esse cáis onde ninguém o irá esperar.
E repete então o que não devia fazer, para tudo
fazer de novo, como se tivesse de o fazer.
( Nuno Júdice - in " As Coisas mais simples )

7 comentários:

Maria disse...

Nuno Júdice fica bem a qualquer hora do dia ou da noite...
Obrigada.

Beijo

Unknown disse...

Maria: beijoca.
Eduardo

Carla disse...

Que fica de quem passa?
tanta coisa...umas vezes depende de nós daquilo que nos predispomos a absorver...outras vezes depende mesmo de quem passa, daquilo que tem para oferecer
beijos

Graça Pires disse...

Um belo poema de Nuno Júdice, de um livro que também tenho na minha estante de poesia. Gostei de o reler aqui.
Um abraço.

Anônimo disse...

belo texto abracos

Unknown disse...

Carla:

É verdade.

Bjs

Unknown disse...

Graça:
Abraço.

Eduardo