terça-feira, 26 de agosto de 2008

É do amor que falo

( foto do autor: Mértola - Guadiana )
A dádiva total dos corpos às águas
que desabam das montanhas,
a vitória dos peixes sobre as pedras,
o riso do sol face ao espanto
do corvo hierático sobre as rochas.
Canto a placidez das cegonhas
sobre as calmas enseadas,
o rumorejar dos barcos,
o farfalhar dos choupos,
a correria infantil dos cães
sobre as areias inclinadas dos rios.
É do amor que falo.
Do riso contra a bruma,
do teu corpo liberto
dançando violento sobre o verde
onde os insectos enlouquecidos
incomodam a casa que arde
nas veias do centro da terra descoberta.
Beijo líquido e resinoso à sombra do mês de Abril
que aspira o aroma do rosmano, das estevas e das urzes,
nudez agreste e calma.
Canto contra a morte
que nem lembro.
Renasço, pleno, babado de raízes.
Admiro o céu,
as águas sobre o corpo.

Ainda há pouco chorava como um ramo

em orvalho de manhã

o sonho de ser água.

Criança sem mais nada que o riso numa taça.

A eloquente solidão,

a festa que dança com teu corpo nu e vitorioso

sobre as dunas...

Quão difícil foi chegarmos à dança com que danças,

sem tempo sobre o tempo!

Difícil, sim, difícil, foi crescermos e nascermos para o riso

e para a espuma

espantada com a leveza das palavras

e o regresso ao vento aberto,

às ânsias do sol-posto,

aos dedos

loucos de inocência,

descobrindo as grutas sobre a pele.

A noite já chegou

e eu não tenho mais palavras, meu amor,

senão conchas em repouso sobre as rosas do regresso.

Ajuda-me a escrever este poema de amoras mansas, livres,

com gestos de silêncio,

com cansaços de quem merece as madrugadas!...

Eduardo Aleixo

23 comentários:

Maria disse...

Este poema é lindíssimo, Eduardo.
Como eu gostava de saber escrever assim, um poema comprido, a falar de amor...
..."Ajuda-me a escrever este poema de amoras mansas, livres,com gestos de silêncio,com cansaços de quem merece as madrugadas!"... é lindo demais....

Um beijo, e obrigada

Lúcia disse...

Arrebatador, Eduardo. Que dom que tens...
Beijos

Paula Raposo disse...

Belo este poema!! Toda a sensualidade a sentir-se...beijos.

Graça Pires disse...

É do amor que fala cantando contra a morte...
"Ajuda-me a escrever este poema de amoras mansas, livres,
com gestos de silêncio"
Muito belo.
Um abraço Eduardo.

Maria P. disse...

"É do amor que falo" e que bem que falas,que bem que soube ler...

Beijinho*

poetaeusou . . . disse...

*
um belo poema, amigo,
o teu,
a narrativa do senir,
,
amo
os regatos, riachos, rios,
,
como é bela a solidão
á sombra do arvoredo
onde o rio quase em segredo
desliza com mansidão
rumando, mas sempre preso
aos males do coração,
,
saudações
,
*

Unknown disse...

Maria:

Tu escreves bem, Maria. Eu gosto dos poemas que escreves.Obrigado pelo teu comentário.
Espero que estejas hoje mais feliz do que ontem.
Beijinhos.
Eduardo

Unknown disse...

Lúcia:
Obrigado. Sim, o poema é boito. Inda bem que gostaste.
Também gosto do que escreves.
Beijinho.
Eduardo

Unknown disse...

Paula

Ora viva!
Que bom receber elogios.
Inda bem que gostaste.
Beijos.
Eduardo

Unknown disse...

Graça:

Um abraço também.
Fico contente porque gostaste.
Também gosto muito muito dos teus poemas.
Eduardo

Unknown disse...

Maria P:

Soubesse eu com as palavras fazer o que tu fazes com a máquina fotográfica.
Tens muito talento.
Obrigado pelo elogio.
Beijo.
Eduardo

Unknown disse...

Poetaeusou:

Amigo:

Vindo de um poeta que admiro o elogio caíu tão bem!
Obrigado.
Eduardo

Anônimo disse...

lindo, lindo!!! ...."Canto contra a morte que nem lembro"...
Cantas o amor e a vida (a quem pareces grato)
Bjs.
Laide

Unknown disse...

Laide

A vida e a morte, um todo, uma unidade, ligada pelo Amor.

Beijos.

Eduardo

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Eduardo, que bem falas de amor e se não estiver errada também o sentes de forma generosa e com imensa ternura... Meu Amigo, a tua sensualidade tocou o meu coração!
Beijinhos de muito carinho e ternura,
Fernandinha

Unknown disse...

Fernandinha

O que escrevo é resultado do que sinto.
As pessoas dizem que falo bem de amor.
Pelos vistos, sim.
Mas sinto um problema, embora eu seja amoroso, no sentido em que quero praticar o amor, viver o amor, vivenciá-lo, e o problema é este: eu não devia falar do amor.
No futuro, vou evitar falar do amor.
Acho que o amor tem de ser praticado.
Não quer dizer que não o pratique.
Mas...
Já falei, pronto.
Olha, é o que sinto dizer neste momento.
Obrigado pela tua visita.
Também gosto muito de te visitar.
Beijos.

Eduardo

Antunes Ferreira disse...

LISBOA - PORTUGALOlá!E falas muito bem, Eduardo. Os versos saem-te com felicidade, leveza, intensidade e força que nos amarram. Poeta bué da fixe!!!!Cheguei a este blogue através de outros que costumo visitar e neles postar comentários. Cheguei, vi e… gostei. Está bem feito, está comunicativo, está agradável, está bonito – e está bem escrito. Esta é uma deformação profissional de um jornalista e dizem que escritor a caminho dos 67…, mas que continua bem-disposto, alegre, piadista, gozão, e – vivo. Só uma anotaçãozinha: Durante 16 anos trabalhei no Diário de Notícias, o mais importante de Portugal, onde cheguei a Chefe da Redacção – sem motivo justificativo… pelo menos que eu desse com isso… E acabo de publicar – vejam lá para o que me deu a «provecta» idade… - o me(a)u primeiro livro de ficção «Morte na Picada», contos da guerra colonial em Angola (1966/68) em que, bem contra vontade, infelizmente participei como oficial miliciano.Muito prazer me darás se quiseres visitar o meu blogue e nele deixar comentários. E enviar-me colaboração. Basta um imeile / imilio (criações minhas e preciosas…) e já está. E se o quiseres divulgar a Amiga(o)s, ainda melhor. Tanto o blogue, como o imeile, tá? Muito obrigadowww.travessadoferreira.blogspot.comferreihenrique@gmail.comEstou a implementar e desenvolver o projecto que tenho para o meu www.travessadoferreira.blogspot.com e que é conferir ao meu/vosso/NOSSO blogue a característica de PONTO DE ENCONTRO entre os Países fraternalmente ligados – Portugal e Brasil. E outros PALOP e etc…Se me enviares o teu IMEILE, poderei enviar-te «coisas» que ache interessantes. Se, porém, não as quiseres, diz-me que eu paro logo. Sou muito bem-mandado (a minha mulher que o diga…) e muito obediente (cf. parênteses anterior).  Abrações e queijinhos, convenientemente repartidos e distribuídos – Desculpa por este comentário ser tão comprido e chato. Como a espada do D. Afonso Henriques…- Já conheces o me(a)u «Morte na Picada» que acima menciono? Há quem diga que é muito bom. E até que é o melhor que se escreveu em Portugal sobre o tema. Dizem… Obviamente que não sou eu a dizê-lo… Só faltava… E também há quem tenha escrito que  é SANGUE & SEXO… Malandrecos… Pelo sim, pelo não, compra-o.Depois de o leres, se, por singular acaso, tiveres gostado dele, terás de comprar muitíssimos mais exemplares. São excelentes prendas de aniversários, casamentos, divórcios, baptizados, e datas como Natais, Carnavais, Anos Novos, Páscoas, Pentecostes, vinte e cincos de Abris, cincos de Outubro, dezes de Junhos. Até para funerais. Oferecer o «Morte» na morte fica bem em qualquer velório que se preze. E, além disso, recomenda-o, publicita-o, propagandeia-o, impinge-o aos Amigos, conhecidos, desconhecidos & outros, SARL. Os euros estão tão raros e... caros... ++++++++++++A editora da obra é a Via Occidentalis (occidentalis@netcabo.pt) cujo site é www.via-occidentalis.blogs.sapo.pt. Neste blogue podem ser consultados mais dados sobre o livro, cujo preço de capa é € 14,70. ATENÇÃO: Pode ser comprado pela Internet.++++++++++++NOTA IMPORTANTE: Este texto de apreciação e informação é similar em todos os casos em que o utilizo. Digo isto, para quem não surjam dúvidas ou suspeitas sobre a repetição em diferentes blogues. E para que ninguém se sinta ludibriado – ou ofendido… Há feitios que… Mas, sublinho, apenas o uso quando o entendo, isto é, quando gosto mesmo dos que visito. Nos outros onde também vou, se não gosto, saio sem comentários. Há muitos mais. Aqui na terrinha diz-se que «se não gostas, põe na beirinha do prato…»

Deusa Odoyá disse...

Olá meu estimado amigo Eduardo.

Um lindo poema, nos narra a imensidão do amor, com toda a sua sensualidade.

Parabéns meu novo amigo.
Beijos e uma semana com muita paz.

sua nova amiga

Regina Coeli.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Eduardo, penso que sei o que queres dizer... mas, então assim eu também não falava de amor!
Mas, falando ou não ele está em nós... Bons sonhos!
Beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha

Unknown disse...

Regina

Seja bem vinda.
Ainda por cima vinda do céu.
De que gosto muito.
Mas sempre com os pés na terra.
Centrado.
Paz e luz para si também.
Abraço.
Eduardo

Unknown disse...

Fernandinha

Escrevamos sobre o amor, mas amemos.
Escrevamos sobre democracia, mas sejamos democratas.
Escrevamos sobre bondade, mas sejamos bons.
Escrevamos sobre justiça, mas sejamos justos.
Escrevamos sobre luz, mas sejamos luminosos.
Escrevamos sobre solidariedade, mas sejamos solidários.
Escrevamos sobre...etc. Mas sejamos etc.

Beijos.~

Eduardo

Menina Marota disse...

"...Canto a placidez das cegonhas
sobre as calmas enseadas,
o rumorejar dos barcos,
o farfalhar dos choupos,
a correria infantil dos cães
sobre as areias inclinadas dos rios.
É do amor que falo."


Um poema de sentires, de vivência, de gestos... "...Ajuda-me a escrever este poema de amoras mansas, livres,com gestos de silêncio..."

Quem ousaria não escrevre sobre a folha verde da esperança que ofereces?

E continua a falar de amor...sempre.

Um abraço

Unknown disse...

Menina Marota

Pois claro que havemos de falar mais vezes de amor.
Beijos.
Obrigado pela tua visita.
Eduardo