quarta-feira, 13 de maio de 2009

CRONICA Os meus dias no fim do mundo...

São Tomé, cidade capital, deve ter sido uma cidade lindíssima na época colonial, com uma grande baía, uma arquitectura bem definida e espaçosa, sinais de que em tempos se sentiu aqui uma brisa de prosperidade. Hoje, a cidade continua bonita mas decadente, cheia de lixo e com as casas a ruir. A cada dia, lembro-me que o Hospital do país não tem água. Conheço-o por dentro e já vi de perto como se prestam (ou tentam prestar) os cuidados de saúde, e pergunto-me como podemos nós querer exigir mais se não existe à priori a bem essencial - água. Curiosamente, um bairro de luxo cresce mesmo ao lado, onde, dizem, nunca falta nada. Também se ouve por aí que essas casas têm canalizações que vão tirar água à canalização central feita para o Hospital. A verdade é que lá, só de madrugada se enchem os baldes de reserva de água para o dia seguinte. E outra verdade também, é que provavelmente as pessoas que vivem no bairro ao lado vão a Portugal quando ficam doentes. Eu também iria. Cada vez mais penso que andamos todos a brincar ao "desenvolvimento"! (Aventuras da semana: tive uma matacanha, bicho tipo larva que cresce dentro do pé que teve que ser retirada deixando uma cratera :) ) Boa semana a todos, bjs Rita

13 comentários:

Delfim Peixoto disse...

uffff.... deve doer ... marota da "bichinha"
Abraço

Unknown disse...

Rita

Muito boa crónica. Realista. Crua, como é a realidade de S.Tomé e de outras paragens. Beijo do teu pai.

Agulheta disse...

Olá Rita!adorei as palavras,ele dói mas devem ser ditas na hora e em cima do tempo,aquele que tentamos ser o melhor para o ser humano,por este pouquinho vimos? que afinal as coisas são para alguns,os povos não merecem estar à mercê de alguns.
Beijinho

Mírtilo MR disse...

Infelizmente a independência de certos países pequenos e pobres, mas também a de outros não tão pequenos, ou até bastante grandes, e não pobres de todo, ou mesmo ricos, sobretudo se foram colónias, é problemática, dramática, às vezes até trágica pelas lutas que por isso se travam, sendo, como é costume dizer-se, pior a emenda que o soneto, dada a carência de tanta coisa que não acompanhou devidamente a evolução da independência, ou do que devia ser uma verdadeira independência, que em alguns casos ainda é só quase um acontecimento inicial, deixando até por vezes, para pior, deteriorar ou estagnar o pouco, mesmo obsoleto, que existia antes da independência, tornando-se muito maior o drama quando os respectivos governantes, por inércia, incapacidade, ou aproveitamento próprio, sobretudo se houver meios económicos para isso ou se puderem ser captados, interna ou externamente, não implementarem as medidas tão necessárias para um progresso mesmo que lento e difícil.
No caso de São Tomé e Príncipe há alguns recursos económicos atinentes sobretudo à agricultura e tem também havido ajuda internacional, por parte de Portugal, por exemplo, sendo o incremento industrial ainda difícil, ficando mais ou menos à mão o turismo, mas para tal são necessárias ainda muitas infra-estruturas, que mar, paisagem e clima favorável já há.

Realista e pungente crónica, ainda que sucinta, mas compreende-se que assim seja, esta da Rita.
Os meus parabéns e saudações amistosas.

Mírtilo

poetaeusou . . . disse...

*
Rita,
adorei a tua cronica
a verdade em tela naif,
,
S. Tomé, o país das febres,era
assim conhecido, nos anos 70.
penso que pouco evolui . . .
,
eu, no presente ou quando tinha
a tua idade, aí não me apanhavam,
ai não, não . . .
srsrsrsr,
,
tudo de bom para ti,
deste nazareno mareante,
,
*

Lucília Benvinda disse...

É incrível, Rita, mas acho que deve ser mesmo isso: "Brincar ao desenvolvimento!!!"

Até quando o ser humano poderá resistir a ambientes que se degradam porque não tem meios para lhes fazer frente?!

Penso que temos de entregar ao Alto, para que uma Mão divina possa deixar cair uns raios de compaixão e nos ajude a arrumar a casa.

Deve ser desesperante ver, saber, constatar esse fim de mundo, onde o oportunismo faz carreira, onde a safadeza se aproveita da miséria do mais pobre.

Claro, no tempo do colonialismo as coisas andavam direitas, o trabalho escravo era organizado, mesmo que aparentemente a escravatura já tivesse sido abolida. Mas se as sementes que aí plantaram fossem boas, certamente que agora os frutos estavam à vista. Deixavam um povo instruído, não estavam lá só para os sugar em seu próprio proveito.

Acho que Portugal ainda tem esta factura para pagar!

Gosto destas crónicas, ainda que mexam cá dentro comigo. É bom que acordemos todos para estas realidades.

Um abraço solidário,
Lucy

Luna disse...

Lendo a tua cronica, mais presente fica na minha mente as diferenças e a falta de vontade de com elas acabar.
Que um dia o homem encontre amor no coração só assim o mundo pode mudar

Anônimo disse...

Realmente o mundo é feito de contrastes ai no hospital não há água e aqui refilamos porque o homem das águas não entregou os garrafões, e que nos faz beber a água da torneira.
Dá para reflectir e deixar de refilar!!
CF

Anônimo disse...

Cá nos vais lembrando do teu dia a dia em S. Tomé e dos contrastes sociais, dura realidade, que não se altera de um dia para o outro.
Quanto às febres (malária) parece-me que já é residual.
A matacanha é vulgar apanhar-se nos climas tropicais, eu já passei por isso nos anos 70 em Luanda.
Gostei da crónica Rita, continua...
beijinhos da Mãe

Clotilde S. disse...

Crónicas são isto mesmo, não têm de ser necessariamente belas e bucólicas e as verdades são para ser ditas. Parabéns!

Beijinho

gaivota disse...

excelente crónica, minha amiga, continuo a querer ir conhecer s.tomé...
beijinhos

Paula Raposo disse...

Gostei muito desta tua crónica. Anda a brincar-se ao 'desenvolvimento'. As melhoras dessa cratera. Beijinhos.

utopia das palavras disse...

Infelismnte é assim Rita, tão antagónicas realidades no mesmo espaço...hipocrisia, diria eu!
E nós sem podermos mais nada para além daquilo que já fazemos!
É triste!
Desejo de muita saúde e força!

Um beijo