sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Meu olhar


( Só) nas palavras
em mim confiadas
confio.

Depuradas,
são fio.

Meu bote.
Meu olhar.
Meu rio.

(13!1!2012 )

sábado, 22 de dezembro de 2012

O poema e eu



O poema diz-me
Que não precisa de mais palavras!
Que está contente
Com as palavras que tem!
Eu digo apenas:
- Está bem!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O tempo...

Dá que pensar, o tempo, diluído...
Ganho?
Perdido?
Inobservado.
Impossuído.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

É a escrita que me escreve













É a escrita que me escreve.
É o sonho que me sonha.
É o céu que me lembra das raízes.
É o indizível que me cuida das palavras.

( Foto Net )


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Debruçado à janela das sílabas


Que mundo é esse que vejo,
debruçado à janela das sílabas,
onde o ar é mais leve,
e mais perceptível
a conversa dos pássaros?!
-
Eduardo Aleixo
-
Foto Net

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Nota biográfica

Um meteorito caiu !
Dormindo nele vim eu !
Que notícias de infinito !
Que anos perdidos de céu !

Foi ilusão pretender
lembrar-me do Paraíso,
contar histórias encantadas,
de noites sem voz e sem riso !

Rãs concertando nas águas,
estrelas acenando nos céus,
mil sonhos nos meus cabelos,
meus olhos cobertos de véus !

Um meteorito caiu !
Dormindo nele vim eu !
- Onde estão as minhas vestes ? !
-  Nem na terra, nem no céu !

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Flor de lótus


O céu rejubila com a chegada do voo das asas carregadas com o cheiro sagrado da terra!
O meu anjo sorri, doce, irónico, grato, com cara de criança sábia, quando lhe digo que não sinto necessidade de fazer referência às suas asas!
Foi no momento do sorriso que tive a certeza de que ele era o meu anjo verdadeiro|...
Leva-se tempo a entender certas coisas!...
E nunca se entenderão verdadeiramente sem o sabor agridoce das raízes...
Também se pode aprender esta lição com a flor de lótus.
Ou com as árvores.
Só então entenderemos o que a aves cantam nos seus ramos!

sábado, 20 de outubro de 2012

Cristais



Há palavras cansadas de tempo
que num último respirar
se libertam do tempo!
São cristais
reflexos de uma vida vivida, sofrida, morta,
mas agora renascida!

sábado, 6 de outubro de 2012

Sem lembranças de nada

Que parte de nós é receptiva à essência das coisas, às palavras mais puras, à beleza das mensagens, à aceitação sem medo dos caminhos inimaginados, à abertura das cortinas longe do propósito de as abrir, é como se deixássemos de ser pesados no hábito de o sermos, é como se..., não: é mesmo quando planamos sem o sabermos, quando estamos leves sem o pensarmos ser, é quando somos outros que outros olhos se abrem, não sei em que parte de nós é outra a consciência, outro o patamar do ser. É então que as coisas sublimes (me) acontecem. Sem explicação. Com uma realidade própria. Leves e sábias. Envolvido nelas, como se corpo em nuvem, sou pureza de musgo e alga, dentro e fora, apenas luz, sem lembranças de sombras. Sem lembranças de nada!
País, de que mundo?
Consciência, de que vida?
Não sei.
Apenas que faço parte de que mistério(?), quando disso nem me lembro, me vejo viajando no mundo em que passo, mas tão leve me sinto, que dou um passo, sem limite nem de tempo, nem de espaço...

domingo, 9 de setembro de 2012

É um recanto, aqui!


É um recanto, aqui!
Podia ser noutro lugar!
Não importa!
O importante é que seja um recanto.
Onde a alma diga:
Aqui,
É o meu canto...
.
No meu último livro, " Os Caminhos do Silêncio "
Chiado Editora,Out. de 2011
.

foto net

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Fome e sede

Fome e sede da expressividade firme mas serena do silêncio,
voz insuspeita do inefável perfume de todas as rosas,
do afago fresco das brisas sobre os cabelos das ervas perfeitas,
da harmonia e plenitude dos abraços  sem espaço e sem tempo,
onde não há palavras como deve e haver e ter e ganhar e competir,
mas apenas a clareira dos bosques onde nos sentamos à beira dos regatos
e aguardamos o canto das aves para de novo partirmos,
mais leves, mais fraternos  e  mais amorosos...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O teu tom













Qual o instrumento que tocas
na orquestra polifónica do Universo?
Qual o  teu rosto,
a tua voz,
o teu som,
o teu tom,
a tua missão?
Eis o que importa!
Antes que a morte...
Nos bata à porta !


( Foto Net )

domingo, 15 de julho de 2012

Somos ramos...



Aqui estamos.
Caminhamos.
Para onde vamos?
Não nos largamos.
Somos ramos.
Da mesma árvore.
Cujo nome, ignoramos !
-
Lx, 13 /1/2012
-
Foto Net

sábado, 7 de julho de 2012

Crescemos com a bênção das águas






É como sair de um túnel
Quase como um parto
Preparado pelo tempo,
Remoído !
Como definir
A sensação
Que oprime 
E liberta o coração
A mistura das folhas secas
Dos labirintos das mágoas
Que se dissolvem nas chuvas
Com as pétalas vermelhas das rosas
Podiam ser amarelas
- seios de mimosas -
Perfumadas auroras
Que vencerão a chuva
Olhar diferente para o mundo
Casa com alicerces que ruíram
Sorrisos novos
Com asas mais leves saímos dos becos
E assim crescemos 
E envelhecemos 
Com a bênção das águas...
-
In "Os caminhos de Silêncio " - Chiado Editora, Novembro 2011


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ao meu pai


A tua presença é constante
Nos caminhos que me ensinaste.
Já partiste.
Mas sinto o teu respirar.
-
( poema que me veio à mente no percurso de um caminho do meu alentejo )

terça-feira, 19 de junho de 2012

Diz-me a brisa que passa...

Puro o azul do céu,
O verde das folhas das árvores
e da relva dos jardins,
O vermelho das rosas,
O amarelo dos malmequeres,
O branco dos aloendros,
O rosa das hortênsias,
O lilás dos jacarandás...
......................................
- Todas as cores são puras -
diz-me a brisa que passa
na frescura da manhã !
-
Jacarandá - foto Net

terça-feira, 5 de junho de 2012

Vidas nossas de Amigos idos!

Palavras prontas,
Guardadas,
Só agora reveladas,
Mas com voz de alma desprendida!
Vidas nossas de Amigos idos
Abraços, afagos, desabafos perdidos
Por não dados!...
-
In " Os caminhos do silêncio " - meu último livro

sábado, 26 de maio de 2012

Escreves azul sobre o branco ao lado do verde

Observas o voo perfumado do sonho sonhado na cadeira onde estiveste sentado, e cheiras o perfume do sonho, e revês-te sentado a sonhar ao lado das árvores ( distraído ao longo os anos  sem atentares na identidade  da cadeira do sonho, só agora vês como é inócuo, infértil, amputado, embora sublime, o aroma que sobe no céu infinito e deixa confusas as estrelas  debruçadas nas janelas  do etéreo sobre as águas claras dos rios da terra, como que cheias de saudades das raízes, da frescura da terra, das mãos calosas que a trabalham, do cheiro do suor, do salgado da lágrima, da dança do riso, da liberdade festiva da aventura e da transgressão, da quentura dos corpos dos seres e da terra, ausências notadas nos incensos flutuantes evolando dos turíbulos movimentados por tuas mãos inaptas, impreparadas, inúteis ...)...!!

Acariciado pela luz do sol, e empurrado pela brisa, escreves azul em cima do branco do papel, sobre a mesa ao lado do verde das árvores floridas e com frutos...

Não resististe ao impulso conhecido em direcção às nascentes e aos regaços que sentes desde uma idade que não sabes localizar no mistério do tempo, e foste sentar-te ao lado do verde das árvores, e levaste a folha branca do papel, vazia como tu, vazio do verde, mas cheio dos cinzentos reflexos ecos ruídos guerras e conflitos, e imploraste pelo verde, o teu bosque de plenitude, brasonado em ti, mas situado muito para além da margem do teu rio de águas adormecidas, esquecidas, aparentemente abandonadas!...

Sentas-te então ao lado do verde, e começas por escrever: acariciado pela luz do sol, e assim permaneces, e vais mergulhando no colo da tua face não lembrada, até que já não te dás conta de que escreves, não a palavra: acariciado, mas sim inundado pela luz, e que já não escreves  que te sentes empurrado pela brisa e que deixas de falar  em árvores floridas  e em frutos, porque o teu olhar, dissolvido nos rios que vão na corrente dos leitos frescos por dentro dos troncos das árvores e arbustos, é agora fotossíntese emergente nos dedos esguios das gavinhas e nos sorrisos embriagados  das folhas verdes balouçando no mar azul do céu que com um abraço infinito te recebe.

Dás contigo sem palavras que escrever. A caneta suspensa  no sorriso da luz. O corpo aliviado da necessidade de pensar. Bote atrelado ao cais, reencontro dos seres e das fibras e das pedras e dos átomos  do teu corpo com os átomos de todas as estrelas do universo. É o momento em que terminas o poema e olhas com outro olhar, e acaricias com outras mãos, as tuas, mas cheias de amor pleno, a mesa, e a cadeira, onde sentado escreveste um poema sobre o sonho.
-
In "Os Caminhos do Silêncio" , Chiado Editora, Outubro de 2011
.
Foto Net

sábado, 12 de maio de 2012

Cavalgando as sílabas do silêncio

Preciso do tempo para o meu tempo como se não tivesse (houvesse) tempo. Único espaço onde respiro e me sinto livre.  Nem preciso de espelho para me ver o rosto que tenho e ser a respiração que respiro. Pode existir ruído, mas só o silêncio se ouve. Catedral de espaço ilimitado. Autenticidade cinzelada a sulco de lâmina no  jade mais profundo e puro. Arco luminescente giza o discurso língua vibrante entre o céu e a terra, entre as águas e o fogo, entre a vida e a morte. No céu desta boca de lume me vejo e falo e me atasco leve e me voo semente na terra amada e sulco as águas bote por janelas de vagas onde assomo as corolas ronronantes do mistério.No centro desta boca ventre sou eterna criança não nascida com memórias sem palavras e receios de esquecimentos de um tempo ainda por nascer ! Mas tudo decifro cavalgando as sílabas do silêncio que enche como almas velhas ondulantes o espaço sem tempo da catedral sem nomes, diluídos nos altares do amor pleno.

In " Os Caminhos do Silêncio ", Chiado Editora, Novembro de 2011      

( Foto minha, Costa da Caparica )

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Com a Vida



Não escrevo sobre
Mas com
A Vida
Que me escreve
Nas palavras
Em que sou !

-
In " Os caminhos do silêncio" - Chiado Editora, Nov. 2011
-
Foto Net

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Só nos sonhos vens



Só nos sonhos vens
tu que não vejo e com quem não falo
há tanto tempo
Surges de vez em quando nos sonhos que tenho
sempre calma e não sei se falamos
mas acho que sim
não sei
sei que és uma presença serena
sinto no sonho a perfeição
a harmonia
se falamos ou não 
não sei
mas não me lembro de palavras
lembro sim de gestos
mas tudo suave
a encher o coração
que pelos vistos não dorme.
Será a alma?!
Não sei.
Sei que assim devia ser o mundo chamado do real.
Sei que o mundo chamado do real é a nascente do sonho,
mas também sei que é esta oposição que dá valor
ao sonho.
Mas também penso
que as nossas almas se encontram
e já decidiram
( - será ?! )
que é melhor assim
a gente encontrar-se no sonho
e acordarmos  com a sensação doce e suave e feliz
de que mais vale o encontro nos sonhos 
do que na vida
onde se nos encontrássemos
nenhuma palavra já nos traria a paz
porque já não sabemos usar as palavras.
Então
bem melhor será que nos encontremos nos sonhos...
Será que...se me leres...as palavras que digo se
transformam em verdadeiras?
Isto é: será que também sentes que te encontras
comigo nos sonhos?
Ah!!
Se me leres e nada sentires, o que escrevo é
indubitavelmente delírio
ou expressão de desejos  inconscientes!
Se sentires o que digo, ficas a saber que não 
vale a pena
trocar o mundo dos sonhos por qualquer encontro
em qualquer local
do mundo onde habitamos.
E se nos encontrarmos, poucas palavras devemos
proferir, apenas as 
indispensáveis. Aliás, como disse, já nem sabemos 
usar as palavras!
Se nada sentires, deixa-me dizer que os encontros
nesta vida
deveriam ser aqueles que tenho contigo nos 
sonhos!
-
In meu último livro: " Os caminhos do silêncio " , Chiado Editora, Novembro 2011

domingo, 1 de abril de 2012

Estou de regresso aos ares africans, desta feita em Bissau, uma pequena cidade poeirenta, descaída, cheia de marcas dos últimos conflitos nos edificios a cair, mas também cheia de cores e sabores por descobrir. Daqui parti para a região de Quinara por uns dias. É indiscritível. Estar numa tabanca na Guiné, uma dita cidade (TiTe), mas que mais parece uma aldeola pequena, sem estradas, sem carros, sem cafés/lojas, sem energia , sem água canalizada, e muito menos internet, onde fiquei alojada numa situação não planeada, numa casa vazia com toneladas de pó no meio do escuro e desconhecido…bem, é complicado descrever cada espaço de sentimento e imagem vividas em poucas horas, em que o sono foi praticamente vencido pela ansiedade, medo e quase pânico. De estar sozinha, em primeiro lugar, de estar contextualmente sozinha, sobretudo, de não ver um palmo à frente e ouvir imensos sons estranhos por todo o lado, ainda por cima parecendo que estavam todos dentro da casa onde nada se via. E a certa hora da noite chegou um silêncio absoluto, outro lugar estranho dentro de tudo o resto que me impressionou… Dei por mim a deambular em pensamento sobre a vida das pequenas tabancas que visitei, das suas famílias e seus hábitos. Do que significará ser balanta, biafada ou papéis... Dos recantos que não percebi, das pequenas casinhas que constroem para o espirito protector “ishram”, dos instrumentos que usam para cozinhar, de toda a logística familiar – milhentas crianças e bebes, água para ir buscar, banhos, roupa para lavar, lenha, etc –dos chás típicos que fazem com uma erva, enfim, de tudo que é tão diferente, como eles devem achar de mim ao olhar e chamar “Biancaaa”… Até breve.Rita

sábado, 24 de março de 2012

As palavras são de água

As palavras rebolam pela estrada aberta 
e eu senti o momento da abertura!
Uma fonte se abriu
quando espetei o dedo no ponto certo
da argila da montanha 
e a água correu!
Recebo-a com cuidado na ponta dos meus dedos,
nem penso,
deixo-a correr pelas mãos
e lavo com ela o corpo todo.
É o momento da minha ligação ao universo!
Agora revejo o meu rosto verdadeiro
que se expressa
feliz ou triste, não importa.
É a água da Fonte!
Não há estrangulamentos ...
Sou a água que corre e me ilumina.
As palavras são de água.
Correm.
Ouvem-se no silêncio.
A alma está contente porque eu a ouvi
no momento certo.
Ela esperava que eu a ouvisse.
Ela espera sempre ser ouvida.
Nem sempre a ouço...
Ando muitas vezes distraído...
Mas há momentos que não sei explicar:
- Descubro fontes!
São os momentos do encontro maior!
- O encontro mágico do amor.
-
In, " As palavras são de água " - Chiado Editora, Setembro de 2009
-
Foto Net

sexta-feira, 16 de março de 2012

Dia que amanhã já findou

Poema de  Rita Aleixo
.

Perscruto o passado
Perscruto o futuro
Sondo memórias, falas e sonhos
Vejo imagens, palavras e mundos

Só para ver se me encontro
.
Mas nem num nem noutro mundo
Me escondo
Nem num nem noutro
Passado e futuro
Vivo
.
Apenas com um e outro
Me inspiro
Sorvo ar, experiência e valentia
Algum amor, inocência e sabedoria
Para acabar no ponto onde agora me encontro 
- O hoje
.
Dia que amanhã já findou
e onde amanhã já não sou.
.
RITA ALEIXO
.
Foto Net

domingo, 11 de março de 2012

ECOS...

As vozes das almas calam-se face à inundação alienada dos ecos que ressaltam sobre as montanhas da pele. O ruído que provocam faz cair as brumas sobre o anúncio de todos os sentimentos verdadeiros.
Há que partir da voz original e que ela não se perca.
Só ela fala das águas puras do interior das rochas e deixa ver o essencial do mundo.
É demasiado o ruído e este faz tremer as pontes entre as águas soltas e as que correm transparentes no ventre secreto da terra.
Por isso fujo dos ecos prevalecentes sobre os poros  das encostas da pedra.
Prefiro a voz pura, tosca, mas original, que se eleva na madrugada como as névoas na superfície das águas quando o sol desce no vale e vai no bico das cegonhas dizer o que a alma diz sem outra pretensão que não seja:
- Estou aqui, só, debaixo do céu,   mas acompanhado por todo o amor do mundo !...
-
In  " Os caminhos do silêncio ", Chiado Editora, Novembro 2011

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

E assim passamos...

Como as ondas do mar
os seres vêm e vão,
partem e regressam .
Nas encruzilhadas das águas da vida
cruzam-se.
Uma vezes afastam-se.
Outras aproximam-se
e sentem-se próximos
como se já se conhecessem !
Como se não houvesse longe nem perto
comunicam.
Diz-se que é durante a noite
que somos visitados
e visitamos
e viajamos
sem nada nos lembrarmos
quando a luz do sol
nos invade os quartos !
Percorremos caminhos misteriosos...
E sorrimos no sol ou na bruma  dos dias
sem conhecermos a nascente dos sorrisos !
Nem sobre a dor sabemos
e muito menos dos tormentos
com que aprendemos 
e crescemos !
( E assim passamos
e morremos...)
-
Março de 2012
-
Foto minha

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Nudez plena. Sem máscaras.

Terra nua com luz intensa e fresca ao longo dos revezes da lonjura!
Regaço ilimitado, sem refúgios, esconderijos, encontros secretos, proibidos, recolhimentos de oração!
Nudez plena. Sem máscaras. Plana. Rasa. Árvore perfeita. Asas com cheiro de restolhos nos bicos e raízes de ervas nas patas!
Deserto. Com poços de água  fresca e pura.
Meu bosque de brancura. Com todas as cores. E sombras. E portas. E janelas.
Abertas.
Laranja de manhã. 
Inexpugnável!
.
Foto Net

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

VI

Vi a velhice
vi a solidão
vi os olhos teus rirem ao encontrarem-se com os meus
que de ti nasceram,
vi a decrepitude do corpo,
a nossa decadência,
como se estivessemos todos numa fila
à espera,
vi.
Vi também o carinho dos mais jovens tratando
dos velhos
sós
e tristes e muitos já sem lembranças na cabeça
e repetindo as mesmas palavras,
vi.
Vi também que é Fevereiro
e as amendoeiras abriram já seus olhos brancos
floridos para o céu.
Vi também as flores brancas raiadas de desenhos
castanhos das estevas.
E os brincos floridos brancos dos gaimões.
E vi ao lado da estrada principal as cegonhas
limpando e rearrumando aos pares os seus ninhos.
Vi.
Vi que não tarda a flor da urze e do rosmaninho.
Vi que está chegando a Primavera
na mesma terra
à beira do rio
onde a velhice adormece.
Vi nos campos verdes os borregos pastando.
E vi que sempre foi assim.
E vi que não estava contente nem triste.
Estava assim.
-
In, " Os caminhos do silêncio", Chiado Editora, Nov. 2011
-
Foto Google

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

MOMENTO



Poema de Rita Aleixo

Algo rebentou.
Uma semente
Um soluço de absoluta necessidade
Uma tristeza demasiado pesada
Para continuar ali presa no esquecimento.
Ficaste parado, como que em câmara lenta,
À espera de perceber o que de estranho se passara.
Que acontecera?
Permaneces aí enquanto o vento rebola na tua face,
Enquanto as pessoas passam distantes
E as folhas caem das árvores nuas para o inverno.
E tudo à volta gira, seguindo o natural ritmo das coisas.
Os dias passam, as horas flutuam umas sobre as outras,
Noites e novos dias sobrepõem-se,
Tudo está em movimento excepto
Esse momento em que te encontras aí
Longe do tempo que parece ter parado embasbacado
Por uma certa indeterminada razão que ainda
Não surgiu em ti.
Surpreso como tu, parece esperar que te recomponhas
Para então também seguir em frente
Com o presente estacado nas profundezas do passado,
E com o que passou presente a cada instante
Desse momento vazio onde tudo se move menos tu.

Algo mudou
Um estremecimento interior
Um murmurar incessante
Uma fina gota cortante
Algo cujo impacto parece ter abalado os alicerces
Por onde respiravas, por onde andavas, por onde tudo fazias.
Tudo à tua volta traz asfixia, prisão, fragilidade
Tudo parece desmoronar com uma maior facilidade que um
Baralho de cartas jogado ao mar.
Apetece chorar, desistir, desfalecer.
As vozes ecoam incertas,
A clareza de outrora esvai-se, distancia-se, já não se encontra em lado nenhum.
Tudo parece ter desaparecido tal como era
Tal como sempre o tinha sido
A ilusão, os sons, as imagens do quadro somem-se
Com o olhar de cada minuto focado
Em tudo o que ali estivera e já não existe.
Não mais…
Talvez nunca mais
Talvez nunca lá tivesse estado.

A folha ficou em branco
Pronta para um novo tempo que há-de vir…

Rita Aleixo
13/Novembro/11

domingo, 29 de janeiro de 2012

Farias hoje anos, pai...

Onde estarás?
Só depois de partires
É que melhor te conheci
E mais te amei.
Estás algures longe-perto.
Será que um dia nos vamos encontrar
Quando eu partir para esse lugar?
Amo-te.
Já partiste.
Tanto te amei.
Devia ter-te amado mais.
Mas há coisas que só vemos depois !
Tu sabes quais são! 
Tens escutado a minha voz.
E o meu pensamento.
Estás longe-perto !
-
In " Os caminhos do silêncio " - com ligeira adaptação.
-
Foto Google



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Postagem dedicada a António Ramos Rosa



CAMPO E CORPO
-
Não houve antes nem haverá depois.
Quando inicia, se sopra a sombra, é uma
absoluta rosa que principia sempre.
À mesa de trabalho, a página é vazia.
A lua banha a brancura e um campo emerge  ténue.
O sangue tumultua, respira o mar suave.
-
Um corpo, quem o sabe, onde começa o sangue?
Um corpo está no campo, corpo e campo se envolvem
na paz mútua que nasce, de dentro e fora, una.
Troncos, membros, olhar circundam campo e corpo.
O campo que se alarga e que respira é corpo.
O corpo que ondula e se prolonga é campo.
-
O olhar alarga o campo, o campo estende o corpo.
Pernas, braços, tronco estendem-se à extensa terra.
Um corpo intenso cresce em campo vivo ao sol.
Nudez de campo e corpo. Um ar só comunica
sem dentro e fora. Uma cadência solta
percorre uma área una. O sangue está no campo.
-
As árvores banham-se na limpidez do corpo.
Os animais saltam lúcidos e delicados
entre as ervas do sangue. Pastam os sonhos
entre pedras. Nudez de corpo e campo.
A língua pousa no prado. O sexo penetra a terra.
Campo e corpo uno. A mão pousa no monte.
-
 Respiro e danço com todo o corpo e campo.
Lanço-me com todo o corpo em pleno campo
e danço tranquilamente a absoluta rosa única
que formo pétala a pétala, rodando no seu centro.
O campo que desdobro e rodopio é um corpo
que do meu corpo nasce, que do meu campo solto.
-
In " A construção do corpo " - António Ramos Rosa
-
Conta-corrente 1 - Vergilio Ferreira:
-

" 1969. 26 - Fevereiro ( quarta ). Conversa pós-prandial com o Ramos Rosa num café. Que personagem curiosa este grande poeta. Claude Roy disse dele, salvo erro, que lembrava um Quixote surrado. Enganou-se de mundo, anda aqui por se ter distraído.  Porque ele nasceu para viver noutro lado onde não haja regras de trânsito, de disciplina, de subsistência. De modo que faz um esforço enorme para se acomodar. Um grande achado para ele foram as práticas do ioga ou coisa que o valha. O mundo em que circula desarranja-lhe os mecanismos interiores. E toda a sua preocupação é consertá-los. Mas ele a compor  e a realidade a estragar. Quando julga que venceu, fica radiante. Dias depois volta à oficina com o psíquico esmurrado. Não chegará nunca a tirar carta de condução no mundo.Hoje trazia outra descoberta: mastigar interminavelmente  um pedaço de alimento até sentir vómitos. Isso lhe afinaria o sabor para recuperar um paladar originário.E ria. Estava feliz. Nós alimentamo-nos tão estupidamente, com um paladar tão encortiçado. Ele quer restaurar cá, o sabor que deve haver talvez do lado de lá.  Encantado com a descoberta. E eu com o encantamento dele. Adorável poeta. Extraordinário poeta. "
-
Foto Google



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O canto triste e doce da terra amada

O transcendente fascina-me.
Toca-me.
Equilibra-me.
Harmoniza-me.
Completa-me.
Mas falo do transcendente que recebe e bebe as lágrimas do meu rosto,
as críticas da minha inteligência,
as dúvidas e fraquezas do meu espírito,
as forças vulcânicas e suaves e doces do meu coração.
Simbiose,
casamento
da terra sagrada,
conhecida,
amada,
cheirosa,
com o céu almejado do sonho dourado.
Céu feliz.
Terra agradecida.
Amor mais pleno não há.
O perfume tem um sentido,
aceite pela lonjura infinita
que escuta com olhos maternais
o canto  triste e  doce da terra amada.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Acho que é a voz da alma


A vida é feita de muitos caminhos.
Mas há um caminho que nos chama em segredo.
É uma voz de silêncio.
Acho que é a voz da alma.
Não sei se os outros sentem o mesmo.
Pobre alma cuja voz não é ouvida!
A minha, quando o é, 
Dá-me a sensação de plenitude.
É como se visse o meu rosto
Nas águas tremulamente iluminadas pelas chamas de uma fogueira.
Será real o que escrevo?
Não sei.
Mas o que sinto, é.
-
12/1/2012
-
Foto Google

sábado, 7 de janeiro de 2012

A diferença entre a vida e a morte !

Gosto das águas correntes contentes saltitantes refrescantes deslizantes...
Vede  como correm simplesmente livres na corrente bailando como se não houvesse tempo...
Vede como no mar tempestuoso não se lembram já de que foram rio...
Vede como as estrelas do céu nelas se reflectem, os peixes saltam felizes, quando o sol vence a bruma e a névoa se dissipa no ar limpo deixando perpassar a sinfonia doce da manhã...
Vede a diferença entre o movimento livre e cantarolante das águas e a placidez morna, morta, pachorrenta, saposa, dos charcos, dos pântanos, das barragens sujas, da monotonia dos dias, cenário de seres vivos desencantados, sem horizontes para além das margens, limites sem pontes...


Vede a diferença entre a vida e a morte...


-
In o meu último livro,  " Os caminhos do silêncio "