quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

MOMENTO



Poema de Rita Aleixo

Algo rebentou.
Uma semente
Um soluço de absoluta necessidade
Uma tristeza demasiado pesada
Para continuar ali presa no esquecimento.
Ficaste parado, como que em câmara lenta,
À espera de perceber o que de estranho se passara.
Que acontecera?
Permaneces aí enquanto o vento rebola na tua face,
Enquanto as pessoas passam distantes
E as folhas caem das árvores nuas para o inverno.
E tudo à volta gira, seguindo o natural ritmo das coisas.
Os dias passam, as horas flutuam umas sobre as outras,
Noites e novos dias sobrepõem-se,
Tudo está em movimento excepto
Esse momento em que te encontras aí
Longe do tempo que parece ter parado embasbacado
Por uma certa indeterminada razão que ainda
Não surgiu em ti.
Surpreso como tu, parece esperar que te recomponhas
Para então também seguir em frente
Com o presente estacado nas profundezas do passado,
E com o que passou presente a cada instante
Desse momento vazio onde tudo se move menos tu.

Algo mudou
Um estremecimento interior
Um murmurar incessante
Uma fina gota cortante
Algo cujo impacto parece ter abalado os alicerces
Por onde respiravas, por onde andavas, por onde tudo fazias.
Tudo à tua volta traz asfixia, prisão, fragilidade
Tudo parece desmoronar com uma maior facilidade que um
Baralho de cartas jogado ao mar.
Apetece chorar, desistir, desfalecer.
As vozes ecoam incertas,
A clareza de outrora esvai-se, distancia-se, já não se encontra em lado nenhum.
Tudo parece ter desaparecido tal como era
Tal como sempre o tinha sido
A ilusão, os sons, as imagens do quadro somem-se
Com o olhar de cada minuto focado
Em tudo o que ali estivera e já não existe.
Não mais…
Talvez nunca mais
Talvez nunca lá tivesse estado.

A folha ficou em branco
Pronta para um novo tempo que há-de vir…

Rita Aleixo
13/Novembro/11

13 comentários:

Unknown disse...

Muito belo, minha filha. Parabéns.

rosa-branca disse...

Olá amigo Edu, pois é...filha de peixe sabe nadar e bem. Lindo poema menina Rita e é engraçado...tem aí uma parte que se não soubesse que era sua, diria que era do seu pai. Heranças lindas minha querida. Beijos com carinho aos dois

Parapeito disse...

"A folha ficou em branco
Pronta para um novo tempo que há-de vir..."
Gostei muito
E pai Eduardo Aleixo....imagino o seu ar embebecido...almas gémeas :)
brisas doces para ambos***

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

ficou a esperança num novo tempo, e isso já é tudo...

um beijo

Unknown disse...

Parabéns!
Está belo, doce e forte este poema...
Rita, continue... tem o poder de deixar o leitor preso à sua escrita.

Felicidades!

Abraço

Eduardo... os filhos são o nosso orgulho, não é? E quando têm os mesmos gostos que nós... é o céu em pleno! Olharmos e vermos o nosso reflexo num outro ser...

Isa Lisboa disse...

Uma folha em branco permite escrever uma nova história, mais bonita :)
Gostei muito deste pedaço de poesia...

lua prateada disse...

Lindo...e tantas vezes veradeiro...
Feliz fim de semana.
BJ
SOL

Anônimo disse...

Entre o Sol e o Luar, à procura de caminhos que vais escolhendo com a tua sensibilidade e olhar atento de Poeta!
Continua a atravessar mares, bosques e desertos, a escrever Rita!
Tira da gaveta outros poemas que podes ir publicando....
beijinho da tua Mãe

poetaeusou . . . disse...

*
Um Belo Momento !
,
Conchinhas para a Filha,
Um abraço para o Pai (babado)!
*

Baila sem peso disse...

e o tempo pára num momento...
e dá brisa poética como alimento
e surge a beleza serenamente
de uma ternura que se sente...

parabéns Rita o momento que foi e já não era
mas fica escrito na melodia da palavra do algo que já estivera...

parabéns Eduardo que bom é sentir em nós o poema, d`uma ternura partilhada

(só quem tem filhotes sabe como é bom, aquele brilhozinho nos olhos da ternura que é nossa) :)

Bom domingo aos dois
beijinhos

GarçaReal disse...

Um poema belo repleto de sensibilidade, na busca de um novo caminho, pois parece haver uma página já virada, na espera da que surgirá.

Parabéns à Rita e ao pai, pois ambos trilham os caminhos do belo poemar.

Bjgrande do Lago

Manuela ramos Cunha disse...

Rita,

Este poema parece-me mais um desabafo de uma qualquer mágoa que tem que ser esquecida, do que um poema banal...

Que não fique o vazio, nem o desânimo de quem reflete o "embasbacar" e a falta de acção, que continue a estoicidade!
E pronta para um novo tempo que há-de vir, e, até lá...a necessária folha em branco que o sábio tempo apagará.

Talvez tivesse que estar mesmo lá!!!
Caso contrário, como desafiaria a vida, para de novo a impulcionar...(até com lágrimas, mas que nos fazem crescer?!)!

Desistir nunca!

Beijinho Rita e espero que me tenha feito compreender dentro do poema, e como descreve - muito bem - as emoções de uma realidade bem focante.

Abraço ao pai, Nela

Anônimo disse...

Obrigada a todos pelos elogiosos cumprimentos a um poema que espero reflicta um pouco alguns momentos que servem de viragem de páginas na nossa caminhada pela vida...

Até breve,
Rita