sábado, 31 de maio de 2014

Aos anjos, deslumbrados !



















Coração da rosa, berço dos sentidos,
Pérola, irrupção do fogo inicial, brasa imorredoira perdida nos tempos sem fim,
Imutável, esquecida, não lembrada, ou não sabida,
Fonte do que é imaculado,
Semente da quentura, do pão e da ternura,
Espir
al do amor,
Procura essencial do que é essencial,
Flor de lótus, cardo, pentagrama,
O corpo todo enrodilhado no casulo da vida,
Limitado, mas sublime campo
Dos alimentos e das vestes,
Dos desertos e das águas,
Dos corpos e das almas,
Das montanhas, dos ventos e do xisto,
Onde labutamos, moramos e sonhamos,
Nas aldeias do contingente,
Desbravando os trilhos das espigas,
Irmãs gémeas consteladas das estrelas,
Dádiva de amor aos anjos deslumbrados!… 


 Maio, Lisboa 

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Páginas porventura por escrever ainda...

Os momentos em que os seres se retiram 
Quantas vezes são 
Os de mais intensa comunhão 
Clarividência
Leitura luminosa das páginas 
Porventura por escrever ainda
Calendários desenhados 
Nos caminhos
Traçados
Nas águas profundas 

Que só nos sonhos se revelam...

Lx, Maio

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Aqui te escutas

É o silêncio a trabalhar em cada ser
No mais profundo de si
Onde o rosto impera
Com a humildade da alma
Sabedoria sem palavras 
Aqui te escutas
E te observas
E sabes sobre tudo
O que as palavras não descrevem

Eduardo Aleixo

Mértola- Maio.

domingo, 18 de maio de 2014

Da criança que nunca morre...

Espaço onde existe a luz
Apelo de barco
Ou palco de dança
Espaço onde o tempo é outro
Lago de águas límpidas
Com sol nos olhos
Vestido de brisa
Tudo de bom e de contente

Está para chegar
A cama de cambraia pronta
Para o noivado das mansas rolas
É das clareiras com sol e brisa nos bosques doces
Que falo
Da criança que nunca morre
Mesmo velho de barbas brancas
É pássaro leve
É correnteza de riacho
Eis o rosto do poema
A pátria da poesia
Que me habita

Eduardo Aleixo 

sábado, 17 de maio de 2014

Flores

As flores.
À beira dos esgotos. 
Estranhamente belas.
Sem culpa.

sábado, 10 de maio de 2014

Gostarei sempre

Gostarei sempre das pessoas que fazen crochet porque me lembro das mãos de fada da minha avó Artemisa com dedos que viam microscopicamente as janelas das linhas das rendas que deixou, sublines palacetes brancos....

Sem título.

Saramago tem toda a razão quando diz que morrer é deixar de estar.
Ainda ontem deixei de estar durante algum tempo e quando acordei
achei que afinal morrer é fácil.
Difícil e chato é a espera, a preparação, a ansiedade, que antecedem a anestesia.
Vendo bem o pior não é morrer.
É viver com medo de morrer.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A morte

A morte...fiquemos tristes,
mas porquê revoltados ?
Tem a sua hora
Planeada
Prevista
Desenhada
nas mãos
nos nomes
nos números
nos olhos
nos pés com que caminhamos
nos sussurros e carícias do vento !


6 de Abril



Sílabas de orvalho


Finos fios de água doirada corrente
voz fresca
olhar limpo
sílabas de orvalho
saudades da Nascente
ânsia da minha alma
neste mundo morrente…


Lx, 3/4/2014